Kelly
Ilustração de Greg Hildebrandt.
Algo se apossou de mim naquela noite, uma inquietude animal, uma irresistível atração, o imperativo do desejo. A aventura começou com a idéia fixa sobre a bunda de uma mulher.
Toda a noite, eu e John, nos quedámos mudos perante aquele monumento calipígico. Ele observando-a pelo fundo de um copo de whisky , eu fixando-a com aquele sorriso bobo tão característico da amálgama de desejo e impotência que sentiamos.
Morríamos aos poucos, fustigados pela beleza e sensualidade de Kelly. A cada requebro, o enlevo, a cada meneio, o encanto. A cada sorriso, um suspiro de paixão.
- Kelly acenou para nós. Ela olhou para mim de uma forma especial, estou certo John. Ali, quando subiu na mesa e fez aquela dança ondulada. Eu tenho que comer essa mulher!
John, que já tinha tomado todas, saiu cambaleando do clube até esbarrar pesadamente na porta do táxi que lhe estendia o porteiro crioulo:
- Farwell, goodluck. O carro saiu chiando, John entornando.
E que sorte. A bunda de Kelly era uma ode à perfeição. Poder tocar-lhe, sentir os glúteos retesando na ponta de meus dedos, debaixo do vestido verde de cetim. Que emoção.
Kelly puxou-me pela gravata, escada acima, como um cachorrinho de trela, babando.
No corredor, num ímpeto avassalador contra a parede, o total descontrole dos sentidos:
- A Calcinha?
- Ficou numa das mesas – um souvenir.
- Tanto melhor. Não vamos precisar dela agora, pois não?
- Pervertido!
- Gostosa!
- Safado!
- Vagabunda!
Vem, bota no meu cuzinho, bem... ‘qui.