Thursday, August 21, 2008

Larissa


Ilustração de Greg Hildebrandt.

- Porque parou?

Porque parei? Parei para encher o teu pneu, baby! Não... Muito cafona isso, muito cafageste. Mas mulher gosta é de um bom cafageste, não é?

Mas como não parar diante de um bundão daqueles? O Diabo está nos pequenos detalhes e nos grandes acasos. Aquela estrada quente quase deserta, aquela curva apertada, aquele tronco saliente no lugar errado. Aquela rabanada de vento súbita num dia de quietude, um cisco no olho contra um pestanejar, um relampejo de memória erótica no meu cérebro visual-masculino: onde é que eu já vi esta cena de mini-saia esvoaçante?

- Porque parou? O pneu estava bem embaixo, mas ela estava com tudo em cima.
- O vento soprou algo no meu olho, bem no meio da curva. Eu pisquei e aí apareceu você.
- Sopro mágico... ein?
- Gênia da lampada?
- Não, gênia da mecânica. Me ajuda aqui.

Larissa era uma gênia do pompoarismo, a caminho das olimpíadas de javelin da cidade de Texas, Mato Grosso do Sul. Eu comia ferozmente aqueles glúteos tesos, entrecortando com leves dentadinhas nos gêmeos e ela apertava forte minhas orelhas entre seus quadrados das coxas. Minhas orelhas encarnadas e em forma de repolho me avisaram, mas eu não lhes dei ouvidos.

A prova final estava marcada e a cerimônia de abertura já tinha começado. Atravessei aquele corredor polônes dos sentidos aos tropeções e mergulhei no abismo de olhos cegos, mas de orelhas bem despertas:

- Afinal não dói assim tanto.
- Isso é o que você pensa!

Friday, September 21, 2007

Kelly


Ilustração de Greg Hildebrandt.

Algo se apossou de mim naquela noite, uma inquietude animal, uma irresistível atração, o imperativo do desejo. A aventura começou com a idéia fixa sobre a bunda de uma mulher.

Toda a noite, eu e John, nos quedámos mudos perante aquele monumento calipígico. Ele observando-a pelo fundo de um copo de whisky , eu fixando-a com aquele sorriso bobo tão característico da amálgama de desejo e impotência que sentiamos.

Morríamos aos poucos, fustigados pela beleza e sensualidade de Kelly. A cada requebro, o enlevo, a cada meneio, o encanto. A cada sorriso, um suspiro de paixão.

- Kelly acenou para nós. Ela olhou para mim de uma forma especial, estou certo John. Ali, quando subiu na mesa e fez aquela dança ondulada. Eu tenho que comer essa mulher!

John, que já tinha tomado todas, saiu cambaleando do clube até esbarrar pesadamente na porta do táxi que lhe estendia o porteiro crioulo:

- Farwell, goodluck. O carro saiu chiando, John entornando.

E que sorte. A bunda de Kelly era uma ode à perfeição. Poder tocar-lhe, sentir os glúteos retesando na ponta de meus dedos, debaixo do vestido verde de cetim. Que emoção.

Kelly puxou-me pela gravata, escada acima, como um cachorrinho de trela, babando.

No corredor, num ímpeto avassalador contra a parede, o total descontrole dos sentidos:

- A Calcinha?
- Ficou numa das mesas – um souvenir.
- Tanto melhor. Não vamos precisar dela agora, pois não?
- Pervertido!
- Gostosa!
- Safado!
- Vagabunda!

Vem, bota no meu cuzinho, bem... ‘qui.

Friday, February 24, 2006

Doris Gleice


Ilustração de Greg Hildebrandt.

Acendi um cigarro.

Doris Gleice avançou pelo quarto lentamente, fincando no soalho os saltos a cada firme passo. O estalido seco do soalho sob seus pés marcando o ritmo compassado de meu coração.

Sem falar e sem se virar, começou a tirar a pouca roupa que trazia: um par de luvas vermelhas jogadas para cima da cama e, ato contínuo, o vestido folheado escorregando pelos seus flancos e caindo a seus pés (já derribado no chão de soalho).

Era uma bela mulher, essa Doris Gleice: longilíneas pernas de bailarina, ancas bem torneadas, seios fartos, um tom de pele moreno aspergido a creolina... as costas e a bunda musculadas, fazendo sobressair o longo sulco que a rasgava supra-meridianamente.

O fumo argolado de meu cigarro se esbatia em suas curvas, dançando ao seu redor como que atraído pelo seu magnetismo. Suas ancas requebraram num lento e sensual gingar que me fez estremecer de desejo.

- Dança para mim Doris! Dança!

Doris Gleice ergueu os braços até à nuca repuxando seus cabelos de azeviche e, num rompante, fé-los voar por entre a fumaça jogando suas mãos para o céu com o maior glamour possível.

A luz fosfórea do letreiro do hotel invadia o quarto, e, refletida pelas estrelas cintilantes de sua pele, exalava um halo de fogo envolvendo cada contorno de seu corpo.

Levantei-me num impulso e alcancei-a com duas vigorosas passadas. Rodeei-a com meus braços pela cintura e mordisquei-lhe o pescoço, depois os lóbulos e depois seus lábios carnudos, enquanto ela, sôfrega, puxava meu cinto, me baixava as calças e agarrava firmemente meu membro viril, já latejando na sua mão.

Apertei sua bunda, cada mão perfeitamente colada a cada rija nádega, estimulando seu períneo em movimentos circulares.

Doris Gleice adivinhou meus pobres intentos, me olhou graciosa e confiante, e sem desviar seus olhos dos meus, molhou dois dedos em sua língua e enfiou-os no cú, sempre sorrindo com a mais doce malícia.

Foi então que ela falou, me dirigindo as suas únicas (Oh gloriosas! Oh divinas! Oh demoníacas) sete palavras :

- Na xota não, eu quero casar virgem.